sexta-feira, 19 de abril de 2013

passei por um tanto de cidades todas iguais
e achei nelas diferenças sutis tão gritantes
quanto o vento
 o vento que tomei e lavei as caras,
o vento que me jogou quatro rios, duas correntezas,
e terra e asfalto.
o trem que soou ao ser visto, não soava
daquele jeito por um ano e quatro cinco meses
e me veio à sujeira dos pés descalços
toda a ternura ácida do dia,
confundindo os olhos do céu ao mato do mato ao povo do povo aos cães
e tudo de novo,
tudo feito novo a cada puro instante, o agora anunciado
pelas faixas brancas no meio da pista - agora - agora - agora
e meu silêncio (ou alma) sendo
cada vez mais sujo de poeira limpa, e soltando os prendedores
do meu varal de sentidos
quando daquela vez
sentado nos dois degraus
me pareceu que o que eu via estava nos meus olhos
o que ouvia nos ouvidos, o que sentia na pele,
o que pensava enfim em tudo o que me fazia sentir
quando simples parei no tempo
por tempo algum que jamais existiu.
mas embora a paz mate a sede
ela não embebeda,
já o vento
cutuca a nuca, coça o peito, penteia os pelos, inunda os olhos
induz ao sono vão
sem sonho,
sem dormir
e faz do pensamento um cão sem frio
nem fome nem dono
com orelhas em transe na janela
um som que se faz tão dentro e tão fora,
um banho leviano.