quarta-feira, 30 de junho de 2010

se o homem não nascesse
pra amar uma mulher,
ele amaria
tudo.

terça-feira, 29 de junho de 2010

a bolha

assoprávamos
a bolha ia

paralela -
paralela =
paradoxos...
metáforas
alinhadas numa mesa:

eu - poesia
bolha - carro
o elefante dos segredos.
o frango dos risos.
o homem de Bangu.
a mulher da incerteza.

enquanto a poesia
roubava o anel
do arco-íris.

sábado, 26 de junho de 2010

despertarte

é aparente
em cada um a
necessidade de algo
não dá pra
dizer especificamente
o quê
mas é intenso

fazer arte
não é mais
o suficiente
acho que nunca foi

ser arte

despertarte:
há reprimido
em cada um
eu vejo
eu sinto
a vontade
de ser o palhaço
no palco

mas a tinta
escorre
com lágrimas

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Oi, meu nome é Esperança
e eu estou
em coma.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Carta aos tais Poetas

que coisas são essas,
meus amigos?
me sinto traído

vocês se enchem de imagens
quando só precisam de palavras

mergulham em amores
e jogam fora as bóias de tédio

sejam mais discretos
e sejam mais indiscretos
por favor

não se escondam
nessa carcaça cheirosa
com medo de tudo
e do mundo

e não me deixem
xingar vocês assim

não!
respondam,
façam um poema de volta
adorarei ler seu ódio
pelo menos
saberei que é sincero

parem com o amor
abandonem
sim, já chega
acho que vinicius de moraes
já falou o suficiente

mais do que o suficiente
ele gritou excessivamente
sobre amor
eu não aguento mais

o amor é pra amar
vocês estão fazendo errado
tudo errado
me desculpem

vocês estão vivendo errado
justo vocês
justo nós
carpe diemistas de primeira

sim, sou abstêmio
mas morro de ódio
e meu ódio me embriaga

vocês bebem
e amam como babacas
de que adianta?

me xinguem
não aceitem essa ofensa
você, garoto ou garota,
que faz poemas para o amado
ou a amada

não pense que não é com você
é com você sim
aprenda a amar
aprenda o valor do amor

eu não vou ensinar
só se aprende o valor do amor
quando se está enriquecido de ódio.

colerizem.

obrigado,
um idiota
(eu pelo menos assumo).

terça-feira, 22 de junho de 2010

não falarás

o português é a língua da poesia
o inglês é a língua da música
o francês é a língua do cinema
o espanhol é a língua da falação
o italiano é a língua da falação gesticulada
o russo é a língua dos trocadilhos
o grego é a língua dos professores
o japonês é a língua do mal-entendido
o mandarim é a língua do futuro
e o alemão
é a língua oficial
do xingamento e
das sentenças diabólicas.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

antes que amanheça pinte o sol na janela

procurei
todas as
palavras para
me expressar

e percebi
que nenhuma
me pertence

todas as que tive
não eram minhas
(voltamos às posses)

a palavra
é uma puta barata
e eu me sinto
como um tarado sem dinheiro.

sábado, 19 de junho de 2010

se eu morrer me juntem à terceira

comi uma nota
de dor, menor
e me sinto enjoado

me sinto tocado
na alma
fundo
um soco
no meu estômago cósmico
implodi

implodido amei
e fiz mil poesias
de amor e de ódio

descobri que
as de ódio eram
mais sinceras
e amáveis

e que as de amor
não eram pra ninguém
além
do "você" de todas as outras

implodido amei
e matei mil pés
para que caiam
e rastejem e não
não

não andem

implodido amei
e fiz três poesias:
uma a apolo
uma a dionísio
e a terceira
ao fogo

quarta-feira, 16 de junho de 2010

sacanagem divina (ainda não temos a quem culpar)

acordei em choque
do lado da lâmpada
apagada - brilhava o sol

andei pelo teto
até ver a|na janela
o mundo ao contrário

pessoas se seguravam em bancos
pra não
xxxxxxxxcair
xxxxxxxxno
xxxxxxxxcéu
xxxxxxxxno
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxnada

alguns mendigos
caíram
mas a maioria se salvou
bendita ponte

pensei no oceano
vazio
seco
para onde terão ido os peixes?
os animais?
alguns devem ter ficado enroscados em árvores
xxxxxxxxxxos urbanos
xxxxxxxxxxem postes
xxxxxxxxxxeletrocutados
os pardais voavam tranquilamente
as pombas estavam confusas
aonde procurar milho?

os macacos como morcegos
pendurados pelos rabos
os morcegos como macacos
alguns morreram com a queda

e o que será dos homens?
não há motivos para preocupação
salvos pelo andar de cima

bom, acho que vou pescar uns pardais
nesse novo mar
de algo-
dão



terça-feira, 15 de junho de 2010

há um poema

há pelo menos
um poema
perdido
nas profundezas
do ser

basta achar
pelo menos
um poeta
que o resgate
antes do fim,
então
ser poesia.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

relógio de Dalí (ou a orelha)

o sol nascia
e se via o degradê
do céu
mexendo a cabeça.

eu me sentia
ao contrário de você
como um relógio
de Dalí.

derretido pelo
ar-condicionado
cozido
(tava bem quente)

aliás, tava frio
bem frio
fora do carro
dentro tava quente (bem quente)

e eu me derretia
e você só ria
contive meu rosto
nas minhas mãos geladas

todos riam
e eu não entendia nada
minha orelha pingava
caía, era uma febre forjada

ai cheguei enfim
o frio voltou
meu rosto esfriou de volta
e você se calou.

peguei o violão
bati no portão
adeus, meus irmãos,
depois devolvam minha orelha
perdida em algum lugar - não pisem! -,
no chão.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

quantas culturas

xxvou ter que conhecer

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxpra saber

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxa minha?

xxxxxxxxxxxxxconstante

xxxxxxxxxxxxxprocura do eu

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxisem perguntas

sem respostas

xxxxxxxxconstante

xxxxxxxxxxxxxxfartura do eu

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxsem perguntas

xxsem respostas

xxxxxxxxxxxxxxxxxxx

xxxxxxxxxxxxxxa velha

mania de ser

xxxxxxxxxxou não ser

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxsem perguntas

sem respostas

sou ou somos

xxxxxxxxxxxxao menos sós

segunda-feira, 7 de junho de 2010

(esperamos) a chegada da motocicleta

xxxxxum dois três
xxxxxesperamos a
xxxxxmotocicleta
xxxxxnada quieta
xxxxxna sua rota
xxxxxtorta, a dieta
xxxxxa deixou morta, cansada.
xxxxxfatigada, morrendo de fome
xxxxxesperamos a chegada da motocicleta.
xxxxxna verdade, não é ela que esperamos,
esperamos a pizza.
xxxxxbom, ela espera a pizza
xxxxxeu espero a comida
xxxxxespero o comer
xxxxxespero o prato
xxxxxo garfo e a
xxxxxfaca em
xxxxxminhas
xxxxxmãos
xxxxxe ela
xxxxxna
xxxxxb
xxxxxo
xxxxxc
xxxxxa

domingo, 6 de junho de 2010

sábio do v zio

não sei
não sei de nada
de nada sei
vivo na constante
não sabência de tudo
e sabência de nada
o sábio do vazio

sábado, 5 de junho de 2010

Antilogia Poética

grande coisa
grandíssima coisa
grandissíssima coisa
idiota, você não passa de um
xxxxxxmeu nome é vulcão
xxxxxxxxxxxxvulcão domiciliar
xxxxxxxxxxxxme trate com decência,
por favor, meu amigo
xxxxxxxxmeu grande amigo
xxxxxxxxmeu grandíssimo amigo
xxxxxxxxmeu grandissíssimo amigo.

xxxxxxxexistem babacas
xxxxxxxexistem otários
xxxxxxxexistem idiotas
xxxxxxxexistem imbecis
xxxxxxxexistem tolos
xxxxxxxexistem tontos
xxxxxxxexistem bobos
xxxxxxxexistem nós
xxxxxxxexistem todos
xxxxxxxexistem
todosxxxexistem
aquelesxexistem
outrosxxexistem sempre
grandesxexistem nunca
semprexexistem
semprexexistiráxsempre
nuncaxxexistiuxxnunca
semprexsereixxxeu
nuncaxxsereixxxdeus.

xxxxxxxa virgem se prega
xxxxxxxno lugar de jesus
xxxxxxx"é meu filho", diz
xxxxxxx"tenho os direitos"
xxxxxxxtodos se curvam
xxxxxxxsem saber porquê
xxxxxxxa virgem chora e
xxxxxxxdiz: "sinto como
xxxxxxxse todos fossem
xxxxxxxmeus filhos e es-
xxxxxxxtou no meu direi-
xxxxxxxto de livrar todos
xxxxxxxdo grande pecado."

xxxxxxxAmém, virgem, só uma coisa
xxxxxxxquanto custa a entrada mesmo?
xxxxxxxah sim, dez porcento, dez porcento. . .
xxxxxxxah e, virgem, mais uma coisa
xxxxxxxjuro que não vou incomodá-la mais
xxxxxxxjuro por deus, só me diga mais uma coisa.

xxxxxxxPor onde anda seu filho e os apóstolos?
xxxxxxxAh, na santa ceia? Ótimo, onde fica mesmo?
xxxxxxxNo palácio do reino? Estou indo...
xxxxxxxO quê? Não posso? É só para convidados?
xxxxxxxMas por quê? O vinho é caro demais pra ser dividido?
xxxxxxxMas e a multiplicação? Ah, ele só faz com água, claro me
xxxxxxxdesculpe, adeus, virgem.

xxxxxxxxxxxxxxantes do adeus
xxxxxxxxxxxxxxtodos os ateus
xxxxxxxxxxxxxxrogam a deus
xxxxxxxxxxxxxx"quero os meus
xxxxxxxxxxxxxxquero os teus
xxxxxxxxxxxxxxquero os zeus
xxxxxxxxxxxxxxcomo prometeus"

xxxxxxxAlô? Alô? Daonde fala? Me desculpe,
xxxxxxxfoi engano... é, é... estava procurando
xxxxxxxo amor, mas ele não está aí também
xxxxxxxné? Por acaso a senhora sabe onde
xxxxxxxele está? Na Santa Ceia? Onde fica?
xxxxxxxAh sim, no palácio... estou indo pra
xxxxxxxlá agora, quer que eu dê algum recado a ele?
xxxxxxxPra voltar pra casa antes das 8? Ok, darei,
xxxxxxxah, qual é o nome da senhora mesmo?
xxxxxxxOk, ok... obrigado, até outro dia Sra. Sociedade.

antes que me joguem pedras
eu suplico-lhes um tempo
para fechar os vitrôs
mas não se preocupem
eles não vão aguentar por
muito tempo... é que estou
com frio, juro por deus.

xxxxà sua esquerda, você pode ver a torre Eiffel
xxxx- mas que linda, não, querido?
xxxx- sim, querida, lindíssima.
xxxx- pra que foi feita?
xxxx- celebrar a revolução industrial
xxxx- ah! que inteligente, não, querido?
xxxx- sim, querida, inteligentíssimo.
xxxx- vamos, querido, ainda quero ver o louvre.

Tic tac. quatro vezes
a luz vai e volta, vai
volta, vai e volta
de novo... mais uma vez
vai e volta, permanece

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxantes que me atirem flores,
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxsuplico-lhes que me dêem
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxum tempo para me trancar
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxno caixão, mas não se preocupem
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxas flores não irão morrer
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxnão antes de mim.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Eu e meu poema

xxxieu e meu poema
xxxifomos descendo
xxxias escadas suas e
xxxide sua prosa, até
xxxique eu tropecei e
xxximeu poema não
xxxisua prosa ficou só
xxxirindo da minha
xxxicara no chão, e
xxximeu poema só
xxxiconseguia falar
xxxiisobre como a
xxxixxsua velha
xxxixxximãe
xxxixxiipoesia
xxxixximorreu
xxxiassassinada pela sua prosa, quando eu nem tinha nascido ainda, e era você que ria, enquanto sua prosa matava a poesia; mas agora é sua prosa que ri, e não você, enquanto sou eu que morro, rolando pela escadaria.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Poeta

xxxxxxxxTijolos apontam para o céu
xxxxxxxxenquanto
xxxxxxxxos galhos secos
xxxxxxxxde uma árvore
xxxxxxxximitam uma antena de tevê.

xxxxxxxxse eu fosse reunir todas as vezes em que esperei
xxxxxxxxem uma vez só, eu esperaria para sempre.
xxxxxxxxporque cada espera é infinita enquanto
xxxxxxxxo esperado não chega

xxxxxxxxmas quando chega
xxxxxxxxtoda a espera é ignorada, e um sorriso se abre co-
xxxxxxxxmo uma cortina... e o tempo de espera... ah o tem-
xxxxxxxxpo de espera é ignorado como a sombra é pelo sol
xxxxxxxxe a luz que vieram da janela.

xxxxxxxxagora eu espero
xxxxxxxxmartelando teclas como num piano
xxxxxxxxsorrio. . . em falso

xxxxxxxxdurante tudo isso,
xxxxxxxxas árvores não cessam de dançar com o vento
xxxxxxxxo vento guia... “tira a mão deste galho, tarado!”
xxxxxxxxguia como um velho perverso guia a daminha de honra
xxxxxxxxno casamento do sobrinho da capital
xxxxxxxxque não via desde o dia em que nasceu

xxxxxxxxenquanto eu espero e as árvores são assediadas pelo
xxxxxxxxvento, no mesmo casamento,
xxxxxxxxum filho se explica para a mãe
xxxxxxxxdesesperado pelos seus sonhos,
xxxxxxxxe a mãe desesperada pelas suas finanças

xxxxxxxxmãe, eu não arranjei um emprego
xxxxxxxxmãe, eu não passei em nenhuma faculdade
xxxxxxxxmãe, eu não tenho uma namorada
xxxxxxxxmãe, eu não tenho um futuro
xxxxxxxxmas, mãe,
xxxxxxxxeu virei um poeta.