sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Continuação do Poema Inacabado do Poeta Morto

veio-me em sono
sonho poético
perguntou-me sobre minha peça
(que só tenho dormindo)
gostou do termo
"caos sobre rodas"

e me pediu, humildemente:
"queria pedir uma coisa
que não é muito a sua"
eu lhe disse pra pedir,
ele desamassou
uma folha rabiscada,
lembro de sua letra.

disse-me que não conseguia terminar,
e leu o trecho, com a voz fraca:

"Minha amada, meu bem, o que fizeste com todo aquele amor que te dei em vão?
Deu pra João?"


Eu ri e acordei

o poema já tinha um fim
não me lembro quem era
piva, quintana, bandeira,
penso que talvez
o final que ele queria era esse,
seu último poema, seu poema póstumo
nas mãos de um esquecido

ou isso tudo teve ainda menos sentido
do que eu acho que teve
e só serviu pra me acordar.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

o tapete

a coisa bonita tá costurada no tapete
esparramada, submersa entre
três quartos de luz e um de sombra
é uma fita marrom escuro jogada no ar
descansando no chão
agora que chego ao fim,
não tenho dúvida
nunca tive pior inspiração

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

sou humorista

nunca quis fazer do céu um aligator
talvez eu tenha errado a intenção, mas
não sei bem o que eu sempre quis fazer do céu
nem de muita coisa, nada não.

paro de falar ou nem começo
não porque não entenda nada do assunto
nem porque esteja entediado, não
é nada disso
o que acontece é que me enfio num mundo estranho
quer dizer, um estranho além desse,
ou esse mesmo
e estando nesse ou naquele
me vejo no lugar
de uma crônica de millôr
 e isso é frequente
dentre esse círculo socio-artístico
que me rodeia
eu sou o pior em quase tudo
e isso me orgulha

porque eu não preciso manter nada
às vezes eu passo mal eou durmo como uma pedra
mas não estou no meio do caminho de ninguém
quem dera estivesse, como me falaram de alexandre
e diógenes

mas não sou tão gênio
e, claro, só digo isso para responderem
"é sim, é sim, é sim"
sim, eu sei,
por exemplo, claro

deixo a conclusão exposta no título