quarta-feira, 22 de agosto de 2012

declaro-me oficialmente acordado

para thyago m. villela


eu sempre tentei ser franco
mas às vezes preciso roubar a franqueza da música
que um gesto não foi capaz de ter
hoje eu faço isso

perdi as maneiras de gesto
então só ouço e se algumas lágrimas tomam o caminho do rosto
me esforço por me romper e enxugá-las com a mão

tem sido variável infinitamente doloroso
mas isso é óbvio
cansa de doer e não passa
não passa mesmo

eu precisava de algo ou alguém
ou de mim mesmo
que incendiasse minha luz

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

não sei dizer se minhas mãos estão frias

há menos sentido agora
do que jamais teve isso de
forçar uma felicidade

já não faço a menor ideia de quem sou
ou de quem é meu pai, meu irmão
porque também eles não se sabem

então, eu reencontro a tristeza
diariamente, não uma lembrança
mas uma verdade inevitável

do mesmo modo como me surgem as coisas esquecidas
o pão carinhoso da manhã de sábado
o corpo da barata morta da tarde bêbada de domingo

ainda

há menos sentido agora do que jamais teve
já não se pode chorar pelas lágrimas
tão sólidas que não escapam
não fluem